Revesti-vos da Armadura de Deus
Lembro que certa vez escrevi que vivemos numa época de
grande confusão em torno de assuntos que envolvem a compreensão e vivência da
espiritualidade. Todos os dias surgem novas religiões, novas doutrinas, novos
símbolos, a ponto de as pessoas se sentirem num verdadeiro “shopping” ou
“self-service”,
julgando-se no direito de escolherem a religião que bem entenderem, conforme
suas intenções pessoais ou seus interesses, no mais das vezes dissociados da
vontade de Deus,
que é a salvação das almas e que todas cheguem aos conhecimento da verdade.
Parece que tudo é uma questão de escolha, em cada um pode
servir-se nesse “buffet
espiritual”, conforme o que achar melhor, pouco importando o que é a Verdade ou
quais as conseqüências de viver na ilusão e na mentira, apegando-se
excessivamente aos bens perecedouros,
às ilusões e enganos deste mundo, sem se preocupar com o que virá após a morte.
Quando Jesus realizou sua oração sacerdotal (São João,
capítulo 17, versículos de 11 a 19), Ele clamou ao Pai que santificasse seus discípulos com a Verdade, afirmando “A tua
Palavra é a Verdade”.
Ora, sabemos que Jesus é a Palavra
que se fez ser humano e habitou entre nós. Também sabemos que Jesus é a
verdadeira luz, que ilumina todo ser humano, e que em Jesus recebemos a grande
dádiva, a grande bênção universal de nos tornarmos filhos de Deus.
Portanto, se Jesus é a Palavra e a Palavra é Verdade,
precisamos buscar essa Verdade, desprezando todos os caminhos obscuros e
desvios que levam às ilusões e mentiras.
Com efeito, de acordo com o ensinamento de Nosso Senhor, o
que importa é que sigamos o caminho da Verdade. Não adianta nos apresentarem um
jardim florido, como vastas áreas de sombra e facilidades (ilusões do mundo),
se para chegarmos ao local desejado (Céu) precisamos passar pelo deserto
(dificuldades, porta estreita...). Não adianta querer a fácil estrada do
litoral, se nosso destino passa pela serra. O caminho errado não leva a lugar
algum. Além disso, é preciso ter cuidado, pois “O caminho dos pecadores é muito bem pavimentado, mas no final dele
estão o inferno, as trevas e os castigos” (Eclesiástico, 21, 11).
Lembre-se: Jesus é
o Caminho e a Palavra de Deus é a Verdade.
O que passa disso são as fábulas do mundo e os engodos
do inferno.
Mas é importante referir que a confusão espalhada pelo mundo
objetiva não só afastar as pessoas do Caminho da Verdade, mas, também,
afastá-las de tudo que leva à Verdade.
Um dos meus livros preferidos é o “Imitação de Cristo”, que é considerado a mais importante das obras
depois da Sagrada Escritura.
Veja abaixo uma extraordinária passagem deste clássico
cristão (Livro III, Capítulo 4).
“Está certo que o inimigo
antigo de todos os modos se esforça para sufocar os teus bons desejos a
apartar-te dos exercícios devotos: como é honrar
os Santos, meditar em minha
paixão dolorosa, ter dor pelos
pecados, guardar teu coração,
formar propósito firme de emenda e
aproveitar na virtude. Sugere-te mil pensamentos maus, para te causar
enfado [tédio, aborrecimento] e turbação [medo, sentir-se ameaçado], para te apartar da oração das santas leituras.
Aborrece-lhe a humilde confissão dos
pecados, e, se pudesse, faria
que deixasses de comungar. Não lhe dês crédito, nem faças caso dele
ainda que muitas vezes te arme laços para te seduzir. Atribui-lhe os
pensamentos criminosos e torpes que te inspira e dize-lhe: VAI-TE DAQUI,
espírito imundo; envergonha-te, miserável; mui perverso deves ser para me
trazeres à imaginação tais torpezas. Retira-te de mim, malvado embusteiro, não
terás parte em meu coração; Jesus está comigo como invencível guerreiro e tu
ficarás confundido. Antes quero morrer e sofrer todos os tormentos imagináveis
que consentir com tua malícia. ‘Cala-te e não me fales mais; não te darei
ouvidos por mais que me importunes. A quem posso temer sendo o Senhor a minha
luz e minha salvação’ (Mc 4,39 e Salmo 26,1). ‘Ainda que um exército se
formasse em batalha contra mim, ainda assim não temeria o meu coração. O Senhor
é o meu sustentáculo e o meu Redentor’ (Salmo 26,3)...”
Feita esta leitura, aproveito para demonstrar o que para
muitos pode parecer óbvio, mas, diante da cegueira do mundo, nem tão
perceptível assim.
O mal está, de todas as formas, vomitando um rio de
abominações para tentar submergir a Verdade, visivelmente tentando desarmar os
cristãos católicos para, assim, destruí-los.
Com efeito, não são poucas as investidas com o claro
propósito de afastar o cristão da vida religiosa, especialmente da humilde
confissão dos pecados (confissão sacramental ao sacerdote),
da devoção aos santos e demais seres gloriosos (anjos), da vida de oração, da
devoção à Santíssima Virgem Maria e todas piedosas devoções promovidas em seu
nome, e, principalmente, buscando afastar o fiel da comunhão frequente.
Mas o que isso significa?
Afastar o cristão da humilde confissão dos pecados é
fazer com que os pecados lhe fiquem retidos e, com isso, provoquem o acúmulo de
culpas e a consequente condenação. Aliás, é importante observar que o
confessionário é o trono da misericórdia, ou seja, o local onde o Senhor
manifesta e opera o maior de seus atributos, a Divina Misericórdia. Quando uma
alma se confessa, presta honra, louvor e glória à Divina Misericórdia,
submetendo-se ao único tribunal em que o réu confessa e é absolvido. Quando um
pecador, do fundo de sua alma, clama o perdão do Senhor, louva e glorifica o
maior dos atributos de Deus (a misericórdia), e Deus, prazerosamente, lhe
perdoa todos os pecados, justificando-o, apagando e esquecendo as suas faltas.
Portanto, confessar os pecados, além de glorificar profundamente a misericórdia
de Deus, é uma poderosíssima arma de salvação que a misericórdia do Senhor
insistente e benignamente põe à nossa disposição. Portanto, toda a oposição ao
sacramento da reconciliação (confissão sacramental ao sacerdote) é uma tática
para desarmar o cristão e, assim, fazê-lo submergir (afundar) em seus pecados e
neles morrer.
Honrar os santos é honrar a Deus, pois nenhum santo
se santifica por méritos próprios, mas pela graça de Deus dispensada pela
Virgem Santíssima. Com efeito, quando se honra um santo, não se deixa Deus de
lado, pois tudo provém de Deus, que é louvado pelos feitos de suas almas
eleitas. A glória do santo é glória de Deus, pois somente Deus é a fonte de
toda graça, prodígios e milagres. Dessa forma, é fundamental que cada pessoa
tenha pelo menos um santo de devoção, o qual será eficaz intercessor junto ao
Pai e poderoso auxílio. Assim, honrar e ser devoto dos santos, além de honrar e
glorificar a Deus que é a fonte de toda a santidade, é uma arma poderosa de
salvação, para fazer frente às batalhas da vida e vencê-la, para honra e glória
do nome de Jesus Cristo, Senhor Nosso.
O demônio odeia sobremodo os santos, especialmente aqueles
que ainda estão neste mundo, pois são pessoas que, pela graça de Deus, venceram
Satanás e seus perversos aliados. Uma alma que se santifica é uma alma de que –
pelo poder de Deus e pelas graças dispensadas pela Virgem Maria – vence o
demônio.
Os santos são almas daqueles que vieram das grandes
tribulações, que lavaram e alvejaram suas vestes nos Sangue do Cordeiro,
e, por isso, foram mais do que vencedores e que passarão a eternidade
auxiliando as almas que ainda estão no mundo travando os mais encarniçados
combates.
Meditar a paixão do Senhor é glorificar e demonstrar
profunda gratidão, reconhecendo quão grande é o amor de Deus por nós. Na obra
de Santa Faustina,
a notável religiosa escreveu em seu diário que apraz muito a Jesus conceder
tudo o que lhe for pedido “pela sua dolorosa Paixão”,
acrescentando que apraz ao Senhor conceder tudo o que lhe for pedido através da
devoção conhecida como “Terço da Divina Misericórdia”, em
que se clama a Deus: “pela sua dolorosa paixão, tende
misericórdia de nós e do mundo inteiro”. Dessa forma, meditar a
dolorosa Paixão do Senhor e recorrer à Divina Misericórdia é uma poderosa arma
para quem quer vencer todas as batalhas e salvar a si e seus familiares. Não é
por outro motivo que o maligno tem se esforçado para espalhar pelo mundo o
repúdio pela cruz, servindo-se de tudo o que pode (pessoas perversas, seitas,
falsas igrejas, falsas religiões etc). Portanto, nunca esqueçamos de meditar a
dolorosíssima Paixão do Senhor, bem como todas as inumeráveis chagas de Jesus,
sendo profundamente gratos ao Senhor, que tudo suportou em obediência ao Pai,
para resgatar a espécie humana de seus pecados. Portanto, a “Serpente” quer, de
todas as formas, impedir que as pessoas meditem a Paixão do Senhor, pois pela dolorosa Paixão de Cristo formos
curados,
restaurados e destinados à salvação.
Ter
dor pelos pecados é reconhecer-se pecador e pesarosamente saber que ofendeu
a Deus. Essa dor, no entanto, nunca deve estar separada da confiança na Divina
Misericórdia. Nós devemos ter dor pelos pecados, confessá-los, esforçar-se para
não mais cometê-los e seguir em frente. Deve-se, contudo, evitar a
autocondenação e jamais perder a esperança de salvação, pois a Misericórdia de
Jesus é inconcebível e faz desaparecer mesmo os piores pecados, desde que
haja confissão e firme propósito de emenda e correção (“Vai e não peques
mais!”). Entretanto, é preciso deixar claro que o perdão dos pecados não apaga
as consequências deles, sendo fundamental – além de pedir perdão – reparar os
pecados quando isso for possível; e, caso impossível, pedir, quando receber a
Comunhão, que Deus, na sua onipotência, repare nossos pecados. Assim, o mal
quer nos desarmar também desse sentimento (dor pelos pecados), lançando mão do
abominável secularismo, que considera tudo – mesmo os piores pecados – normal e
procura afastar a religião do cotidiano das pessoas e das decisões
governamentais.
Complementando o parágrafo anterior, observa-se que é
preciso ter firme propósito de emenda, ou seja, vontade de melhorar e
converter-se por completo, o que só é, de fato, possível com o auxílio da graça
de Deus dispensada pela Santíssima Virgem Maria. Progredir na virtude é
ser cada vez melhor, um pouco melhor a cada dia, em todos os aspectos da vida
cristã (caridade, pureza de corpo e alma, devoção...).
Dessa forma, há uma estratégia perversa para desarmar os
católicos, e essa estratégia não é mais oculta e nem faz questão de ser
discreta ou sutil, sendo cada vez agressiva em sem escrúpulos.
Portanto, como ensinou o notável Apóstolo São Paulo,
precisamos nos armar cada vez mais, para combater o bom combate e guardar a fé:
“...Vistam a armadura de Deus
para que, no dia mau, vocês possam resistir e permanecer firmes, superando
todas as provas. Estejam, portanto, bem firmes: cingidos com a couraça da justiça, os pés calçados com o zelo de propagar o Evangelho da paz;
tenham sempre na mão o escudo da fé,
e assim poderão apagar as flechas inflamadas do Maligno. Coloquem o capacete da salvação e pegues a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus.” (Efésios 6,
13-17).
No mais, opte sempre pela Verdade, pois, como disse o
Senhor, “Aquele que é da Verdade ouve a
minha voz” (Jo 18,37).

“1. No princípio era o Verbo, e o Verbo estava
junto de Deus e o Verbo era Deus.
2.
Ele estava no princípio junto de Deus. 3. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito.
4.
Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens. 5.
A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. 6.
Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João. 7.
Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos
cressem por meio dele. 8. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho
da luz. 9.
[O Verbo] era a verdadeira luz que,
vindo ao mundo, ilumina todo homem. 10. Estava no mundo
e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o reconheceu. 11.
Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. 12.
Mas a todos aqueles que o receberam,
aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, 13. os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da
vontade do homem, mas sim de Deus. 14. E o Verbo se fez carne e habitou entre
nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de
graça e de verdade.” (Evangelho de São João, capítulo 1, versículos 1 a
14)
4. E vós conheceis o caminho para ir aonde
vou. 5.
Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o
caminho? 6.
Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a
verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. 7.
Se me conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já o
conheceis, pois o tendes visto. 8. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai e isso
nos basta. 9.
Respondeu Jesus: Há tanto tempo que estou convosco e não me conheceste, Filipe!
Aquele que me viu, viu também o Pai. Como, pois, dizes: Mostra-nos o Pai... 10.
Não credes que estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que vos digo
não as digo de mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, é que realiza as
suas próprias obras.
9. Depois disso, vi uma grande multidão que
ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e língua: conservavam-se em pé
diante do trono e diante do Cordeiro, de vestes brancas e palmas na mão, 10.
e bradavam em alta voz: A salvação é obra de nosso Deus, que está assentado no
trono, e do Cordeiro. 11. E todos os Anjos estavam ao redor do trono, dos
Anciãos e dos quatro Animais; prostravam-se de face em terra diante do trono e
adoravam a Deus, dizendo: 12. Amém, louvor, glória, sabedoria, ação de graças,
honra, poder e força ao nosso Deus pelos séculos dos séculos! Amém. 13.
Então um dos Anciãos falou comigo e perguntou-me: Esses, que estão revestidos
de vestes brancas, quem são e de onde vêm? 14. Respondi-lhe:
Meu Senhor, tu o sabes. E ele me disse: Esses
são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as
alvejaram no sangue do Cordeiro. 15. Por isso, estão diante do trono de Deus e o
servem, dia e noite, no seu templo. Aquele que está sentado no trono os
abrigará em sua tenda. Já não terão fome, nem sede, nem o sol ou calor algum os
abrasará, 16.
porque o Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os levará às
fontes das águas vivas; e Deus enxugará toda lágrima de seus olhos (Apocalipse,
7, 9-16).
1. Quem poderia acreditar nisso que ouvimos?
A quem foi revelado o braço do Senhor? 2. Cresceu diante dele como um pobre rebento
enraizado numa terra árida; não tinha graça nem beleza para atrair nossos
olhares, e seu aspecto não podia seduzir-nos. 3. Era desprezado, era a escória da
humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles,
diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele. 4. Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os
nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e
humilhado. 5. Mas ele foi castigado por nossos
crimes, e esmagado por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre
ele; FOMOS CURADOS GRAÇAS ÀS SUAS CHAGAS. (grifos acrescidos)