Trecho abaixo do livro: "Por que sou devoto de Maria!?", do Diácono Marcos Suzin.
E QUANTO ÀS ACUSAÇÕES DE IDOLATRIA?
“...Naquela noite,
passarei através do Egito, e ferirei os primogênitos no Egito, tanto os dos
homens como dos animais, e exercerei minha justiça contra todos os deuses do Egito.
Eu sou o Senhor.”[1]
Tenho certeza que
você, querido leitor, já se deparou com os questionamentos oriundos do meio
protestante, nos quais, muitas vezes, somos acusados de idólatras e adoradores
de imagens.
Os fundamentos das
acusações normalmente são retirados do capítulo 20 do Livro do Êxodo e dos
Salmos 115 (Heb), 4-8 (113, 12-16 na versão grega) e 134 (Heb 135) 15-18.
Vou demonstrar que
tais citações e passagens não se aplicam às imagens católicas, muito menos aos
ícones e estatuetas representativos da Santíssima Virgem Maria, de São José,
dos santos, dos anjos e de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Vamos ver o que nos
revela o capítulo 20 do Livro do Êxodo:
“1. Então Deus pronunciou todas
estas palavras: 2. ‘Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa
da servidão. 3. Não
terás outros deuses diante de minha face. 4. Não farás para ti escultura, nem
figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas
águas, debaixo da terra. 5. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás
culto. Eu sou o Senhor, teu Deus, um Deus zeloso que vingo a iniqüidade dos
pais nos filhos, nos netos e nos bisnetos daqueles que me odeiam, 6. mas uso de
misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus
mandamentos’...”[2]
Em primeiro lugar, é
preciso fixar-se no tempo, para verificar quando ocorreu o êxodo de Israel do
Egito e qual a realidade vivida pelo povo naquela circunstância.
A narrativa se refere
ao ano aproximado de 1250 a.C. (um mil, duzentos e cinquenta anos antes de
Cristo), quando Moisés liderou a saída do povo israelita do Egito. Note-se que
a Palavra diz claramente “que te fez sair do Egito”, principal e mais poderosa civilização
da antiguidade, cujas influências perduram até os dias de hoje, país onde os
hebreus[3]
permaneceram durante 400 (quatrocentos) anos desde a chegada de Jacó e seus
filhos.
Em outras palavras e
voltando um pouco mais no tempo, observa-se que Jacó e seus filhos, dos quais
se originaram as 12 (doze) tribos de Israel, chegaram ao Egito por volta de
1650 a.C., deixaram o país dos faraós em 1250 a.C., tendo, portanto, a nação
dos hebreus se formado a partir dos filhos de Jacó e permanecido no Egito
durante 4 (quatro) séculos, período no qual foram paulatinamente reduzidos à
condição de escravos, sendo, por fim, libertados pela mão poderosa de Deus e de
seu instrumento Moisés.
A esse respeito,
muito importante a leitura do Salmo 104, versículos 23 a 26 (Heb. 105):
“Então Israel penetrou no Egito, Jacó foi viver na terra de Cam.
Deus multiplicou grandemente o seu povo, e o
tornou mais forte que seus inimigos. Depois de tal modo lhes mudou os corações,
que com aversão trataram seu povo, e com perfídia, os seus servidores. Mas Deus
lhes suscitou Moisés, seus servo, e Aarão, seu escolhido...”
Nota-se, conforme a
passagem acima, que durante a longa estada no Egito, os descendentes de Jacó se
multiplicaram de modo a constituir uma populosa nação dentro do próprio Egito,
despertando, inclusive, a inquietação das lideranças egípcias.
Nesse período de
quatro séculos, os judeus, principalmente após a morte de José, filho de Jacó e
Raquel, foram oprimidos e submetidos à cultura e à religião egípcia. Muitas
vezes foram constrangidos a assumir o modo de vida egípcio, além de cultuar
suas divindades e esculpir monumentos colossais em homenagem aos deuses do
Egito.
Isso obviamente
ofendeu muito a fé do povo israelita, lembrando que Israel era a única nação
monoteísta do mundo antigo e formava o único povo que realmente conhecia a
Deus. Muitos, no entanto, acabaram aderindo às práticas idólatras e politeístas
dos egípcios, sendo intuitivo que houve grave prejuízo à identidade religiosa
do povo de Israel, muito embora tal identidade em nada pudesse ser extinta por
conta das promessas feitas por Deus ao patriarca Abraão.
Desta forma, já
orientados e fixados no tempo, observamos que, para compreender adequadamente a
citação antes transcrita (Êxodo 20), também é preciso estudar a história do
Egito e a religião dos egípcios, para, então, compreender o que real e
verdadeiramente significam as expressões constantes no já mencionado capítulo
20 do Livro do Êxodo.
Pois bem, vamos a um
rápido estudo sobre a religião dos egípcios.
Como falado
anteriormente, o Egito, como as demais nações do mundo antigo, era politeísta e
teocrático, ou seja, os egípcios adoravam a vários deuses, cada um deles com
suas características e especialidades próprias, e a religião era uma forma de
exercício do poder político e de controle da sociedade. Além disso, a religião
era baseada no culto de seres com representação antropozoomórfica, ou seja, que
eram, no mais das vezes, parte humano e parte animal, ou, ainda, zoomórfica,
quando a divindade cultuada tinha unicamente o aspecto animal, sendo combinadas
características de força, misticismo e mistério.
Acerca da religião
dos egípcios, podemos citar Jonathas Serrano, que assim ensinou:
“Como outros povos primitivos, os Egípcios divinizavam as forças
da Natureza e adoraram a terra, o céu, o sol e o Nilo. Os deuses são invocados
com diversos nomes, conforme as circunstâncias: Osíris, Rá, Amon, Fta (o sol);
Ísis, Ator (a lua); Hórus (o céu) etc. Adoravam vários animais, sendo célebre o
culto prestado ao boi Ápis. Até as plantas receberam honras divinas. Tudo era deus, exceto Deus, como
escreveu Bossuet.
Admitiam a imortalidade da alma e a metempsicose ou migração das
almas. Tinham grande veneração pelos mortos, que eram cuidadosamente
embalsamados (múmias) e postos em suntuosos sepulcros, dentro dos sarcófagos
(ou caixões funerários). Antes de ser sepultado, o morto devia ser julgado
pelos sacerdotes, ainda que fôsse um faraó.”[4]
Outra divindade
cultuada pelos egípcios era “Anúbis”, o chamado “mestre dos cemitérios”, que,
segundo a crença, presidia as mumificações, pesava os corações dos mortos para
saber-lhes a sorte que se adviria no além da vida. Este é o que estaria
“debaixo da terra” e tinha a cabeça de cachorro selvagem (chacal) e corpo
humano (vide imagem à direita).
As divindades que
estariam “nas águas” ou “sobre a terra” poderiam ser os deuses de aspecto
zoomórfico cultuados pelos egípcios, referidos como “aves, quadrúpedes e
répteis” por São Paulo na Carta aos Romanos (Capítulo 1, versículo 23), também lembrado na visão de São Pedro em Atos
dos Apóstolos 11, 5-6[7] e,
igualmente, no capítulo 11, versículos 15-16, do Livro da Sabedoria.
Outros deuses
egípcios tinham forma de crocodilo (Sobek ou Sebek), ligado à ideia de terror e
aniquilamento. Também merece observação Leviatã[8] (referido
como uma espécie de dragão dos mares e igualmente mencionado na mitologia dos
fenícios), porco-formigueiro (Set, apontado como responsável pelas guerras e
pela escuridão) ou cabeça de aves de rapina (Hórus, que era representado com
cabeça de falcão, sendo cultuado como o protetor dos faraós).
Portanto, conforme a
exposição acima, as imagens que Deus proibiu quando estabeleceu as condições de
sua aliança são as figuras representativas dos deuses do Egito e,
eventualmente, outros ídolos dos povos da Mesopotâmia, como foi o caso de “Baal
de Fegor”, ídolo dos moabitas (vide Números 25 e Salmo 105, 25), observando-se
que por onde Moisés passava os ídolos desmoronavam, rotina que foi reeditada
por Nosso Senhor Jesus Cristo quando de sua oportuna, necessária e relativamente
breve passagem pelo Egito, quando da fuga da Sagrada Família da ira impiedosa
de Herodes, período no qual se mantiveram fora da jurisdição de Herodes na “Terra
dos Faraós”[9].
Também merece nota
que alguns dos deuses do Egito também eram cultuados na Europa pré-cristã,
observando que o culto cristão fez ruir todos esses ídolos e Jesus assumiu
definitivamente a condição de Luz do Mundo.
A título de
confirmação, no que se refere ao ciúme que Deus tem de seu povo eleito[10],
cito a seguinte passagem do Livro do Êxodo:
“Naqueles dias, o Senhor disse a Moisés: 10
‘Eu vou fazer uma aliança. Em presença de todo o teu povo, farei
prodígios que nunca se viram sobre a terra, nem em nação alguma, para que todo
o povo, no meio do qual estás, perceba como são terríveis as obras do Senhor,
que vou realizar contigo. 11Observa
tudo o que hoje te ordeno. Eu mesmo expulsarei da tua frente os amorreus, os
cananeus, os hititas, os fereseus, os heveus e os jebuseus. 12Guarda-te de estabelecer amizade com os
habitantes do país onde vais entrar, para que não te sejam ocasião de ruína. 13Ao contrário, destruirás seus altares,
quebrarás suas estelas e cortarás suas árvores sagradas.
14Não te prostrarás diante de um deus estrangeiro, porque o Senhor se diz
Ciumento, e, de fato, o é. 15Não
estabeleças aliança com os homens daquelas regiões, para que, ao se
prostituírem com seus deuses, e quando lhes oferecerem sacrifícios, não te
convidem, e tu não venhas a comer de suas vítimas. 16Nem tomes suas filhas como esposas para teus filhos, para que,
ao se prostituírem elas com seus deuses, não levem teus filhos a se
prostituírem igualmente com eles. 17Não
farás para ti deuses de metal fundido.
Também é importante
observar que ciúme de Deus se evidencia no fato de que os nomes dos “deuses do
Egito” ou dos ídolos sequer são pronunciados, tamanha a abominação de Deus a
tais personagens, que antes de qualquer consideração eram demônios usurpadores
da glória de Deus[11]. Essa
recusa na pronúncia dos nomes dos ídolos fica muito evidente no Salmo 15 (Heb.
16)[12],
ocasião em que o salmista expressamente manifestou: “Numerosos são os sofrimentos que suportam aqueles que se entregam a
estranhos deuses. Não hei de
oferecer suas libações de sangue e meus lábios jamais pronunciaram o nome[13]
de seus ídolos.”
Não fosse esta
confirmação suficiente, cito ainda o Salmo 80 (Heb. 81):
“Escuta, ó povo, a minha advertência: Possas tu me ouvir, ó
Israel! Não haja em teu
meio um deus estranho, nem adores jamais o deu de outro povo.
Sou eu, o Senhor, teu Deus, eu que te retirei do Egito. Basta abrires a boca e
te satisfarei. No entanto, meu povo não ouviu a minha voz, Israel não me quis
obedecer...”
Desta forma, conforme
demonstrado acima, feitas as devidas ponderações, as imagens que Deus proíbe
são as representativas dos ídolos pagãos e dos deuses da religião egípcia e dos
demais povos daquele tempo, cujos nomes sequer se digna pronunciar, observando
que as imagens desses deuses eram muito disseminadas no mundo antigo nos mais
variados e distantes lugares.
Isso tanto é verdade
que o próprio Deus, no mesmo Livro do Êxodo, porém agora no capítulo 25,
versículo 18, mandou Moisés providenciar que fossem esculpidas imagens de dois
querubins de ouro para serem colocados um de cada lado da Arca da Aliança. Mais
diante, no Livro dos Números, capítulo 21, versículo 8, Deus mandou esculpir a
imagem de uma serpente de bronze para curar os picados pelas serpentes que
infestavam o acampamento; imagem esta que o próprio Jesus Cristo fez menção no
Evangelho, comparando a elevação da serpente de bronze à sua própria elevação
na cruz (João 3,14). Ainda mais um pouco, Deus ordenou a Salomão que esculpisse
imagens de dois leões, bois e querubins para serem colocados no templo (I Reis
7, 29; e II Crônicas 3 e 4).
Isso deixa claro,
como, aliás, já referido anteriormente, que as imagens proibidas são justamente
aquelas que representam deuses pagãos, ou seja, os deuses do Egito[14] e
seus similares da cultura e religião greco-romana, os quais foram “despedidos
de mãos vazias” e tiveram seus nomes exterminados[15]
por Deus, pois eram usurpadores da glória que somente a Deus é devida.
Com efeito, não são
“Amon-rá”, “Osiris” ou “Atum-rá”, ou, ainda, “Apolo”, “Hélio” ou “Júpiter” a
luz do mundo, mas unicamente JESUS CRISTO, o Filho de Deus Altíssimo[16],
que é o “Sol nascente que há de iluminar
os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no
caminho da paz" (Lc 1,78).
“Pois em vós está a fonte da vida, e em
vossa luz contemplamos a luz”[17].
Do mesmo modo, não é Anúbis que pesas os corações, mas,
conforme Provérbios 21, 2, “cabe ao
Senhor pesar os corações.”
Mas caso você, querido (a) leitor (a), ainda não esteja convencido,
gostaria de citar a título de confirmação um trecho muito importante da Carta
de São Paulo aos Filipenses, ei-lo:
“Dedicai-vos mutuamente a estima que se deve em Cristo Jesus.
Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas
aniquilou-se a sim mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos
homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais,
tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou poderosamente
e lhe outorgou o nome que esta acima de todos os nomes, para que ao nome de
Jesus se dobre todo o joelho no céu, na terra e nos
infernos. E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai,
que Jesus Cristo é o Senhor.” (Carta aos Filipenses capítulo 2, versículos
5-11)
Note-se que a Palavra
nos revela que devem submeter-se ao senhorio de Jesus todos os do Céu (não só
cósmico, mas também o Céu concebido como o Paraíso), o que comprova que Jesus
derrubou a cúpula da hierarquia mundial das principais religiões da antiguidade,
mais precisamente o Sol do Egito (Amon-rá, Atum-rá e Osíris), o Sol da Grécia
(Apolo) e o Sol de Roma (Hélio e Júpiter). Jesus também fez ruírem os ídolos do
mundo, inclusive o poder bélico e econômico de Roma. Por fim, Jesus também
exerceu e exerce seu senhorio sobre o que está abaixo da terra, submetendo o
ídolo Anúbis e todos os demônios.
Importante observar,
para a melhor compreensão, que no Antigo Testamento, principalmente no tempo de
Moisés, o povo não tinha uma concepção adequada acerca da eternidade, ao passo
que no tempo de São Paulo essa compreensão já era incomparavelmente melhor por
conta da ação do Espírito Santo em Paulo.
De observar-se,
ainda, que o escrito de São Paulo está em simetria e na mesma ordem o capítulo 20
do Livro do Êxodo, restando, assim, visível e claramente ajustada a conclusão
de que as imagens que Deus proibiu no Antigo Testamento eram justamente as dos
deuses do Egito, da mesopotâmia e demais povos primitivos.
Pelos mesmos motivos,
não se aplicam aos ícones e imagens cristãos as expressões “têm boca, mas não
falam; olhos e não podem ver; têm ouvidos, mas não ouvem...” (Salmo 115 Heb).
Com efeito, as imagens católicas são representativas, e a veneração transcende
a matéria, ou seja, eu direciono a oração para a imagem, mas é a pessoa
representada (Maria Santíssima, São José, os santos) que recebe pessoal e
diretamente a minha oração, servindo-se da matéria como canal da graça de Deus
para socorrer o fiel que a invoca.
Importa, igualmente,
observar que, no Antigo Testamento, não havia e não se podia representar
qualquer imagem de Deus, pois sequer seu Santo Nome podia ser pronunciado.
Entretanto, sabemos
que, em Cristo, Deus assume a forma humana, ou seja, encarna-se e se faz
matéria. E mais, Cristo passa a ser o Templo de Deus (Vide 2 Samuel 7, 4-17[18]),
razão pela qual cremos que, a partir de Cristo, a matéria se torna canal da
graça de Deus.
Com efeito, no Antigo
Testamento, Deus não podia ser visto, porém, depois de Cristo, passa a ter uma
imagem, Jesus Cristo, a imagem do Deus invisível, conforme Colossenses 1,15,
lembrando, ainda, das palavras de Jesus: “Aquele
que me viu, viu também o Pai” (João 14, 9).
Também lembramos que
a Tradição nos ensinou que Jesus deixou sua própria imagem impressa no tecido
utilizado por Verônica para enxugar a sua face durante o trajeto de Jesus com a
cruz às costas rumo ao Monte Calvário.
Do mesmo modo, é
importante observar que a sola scriptura,
por vezes, se mostra um princípio insuficiente e até um obstáculo à compreensão
de certos assuntos, principalmente quando é tomada de modo extremado,
desprezando o intérprete tudo o que não está contido expressamente na Sagrada
Escritura. Além disso, as conclusões anteriormente esposadas têm por base
pesquisas históricas, observando que toda ciência tem suas fontes auxiliares
que permitem um conhecimento mais aprofundado e exato.
Com efeito, sabe-se
que a Bíblia é suficiente para conter e expor a Revelação, mas não é
exauriente, ou seja, não contém tudo, conforme o Evangelho de João
expressamente atestou no capítulo 21, versículo 25. Desta forma, resumidamente,
a Bíblia é suficiente, mas não é exauriente, a Bíblia contém o todo, mas não
tudo.
Feitas essas
observações, ratifico que nós tempos imagens, porque o próprio Senhor Jesus é
uma imagem do Deus invisível e por que Ele mesmo quis deixar sua imagem em nós
e para nós[19].
Isso tanto é verdade
que o grande São João Maria Vianney percebeu clara e induvidosamente os efeitos
maravilhosos das imagens sacras na piedade dos fiéis, conforme nos ensinou
Monsenhor Francis Trochu:
“A fim de satisfazer a piedade pessoal, e porque tinha experimentado até que ponto as
imagens impressionam e instruem as almas boas e simples,
o Pe. Vianney multiplicou na sua igreja os quadros e as imagens. S. José e S.
Pedro adornavam o santuário; S. Sisto, patrono da paróquia, e S. Brás, estavam
colocados na entrada do coro. Havia ali duas imagens deitadas: Cristo no
sepulcro e Santa Filomena. Colocados em nichos ou simplesmente fixados na
parede, viam-se Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, uma Virgem com o menino
Jesus, S. João Batista, S. Lourenço, S. Francisco de Assis, Santa Catarina de
Sena, S. Bento Labre, o Arcanjo Rafael e o jovem Tobias. A sagrada Face e os
instrumentos da Paixão viam-se em relevo na capela do Ecce Homo, onde sobressaía um grande Cristo coroado de espinhos. Tudo
falava aos olhos os cristãos naquela pequenina igreja.
- Muitas vezes,
costumava dizer o Pe. Vianney, basta a vista de uma imagem para nos comover e converter.
Não raro as imagens nos abalam tão fortemente como as próprias coisas que nos
representam.”[20]
MAS O QUE É, AFINAL, IDOLATRIA?
“...Porque sabeio bem:
nenhum dissoluto[21],
ou impuro[22],
ou avarento[23]
– verdadeiros idólatras! – terá herança no Reino de Cristo e de Deus...”[24]
Um conhecido
historiador, falando sobre a idolatria, o bezerro de ouro e o caos dos povos,
ensinou: “Tudo era deus, exceto Deus
mesmo” (Bossuet).
Compreendida essa
questão, precisamos definir de modo didático e acessível o que é “idolatria”,
para, assim, deixar as pessoas tranquilas, confiantes e livres de qualquer
inquietação, lembrando que tudo o que vem do Espírito Santo deixa a alma
tranquila e em paz.
Lógico que não desconhecemos
que “idolatria”, etimologicamente[25],
deriva das expressões gregas “eidolon” e “latreia”, significando adoração aos
ídolos. Antes, porém, observo que não é o objetivo desta pequena obra ser
teológica, técnica, científica ou esquematizada em doutrinas e conceitos. O
objetivo do autor é se fazer compreender por qualquer pessoa, seja qual for seu
nível de escolaridade.
Portanto, convido
você a exercitar a seguinte dinâmica para estabelecer o que é e o que não é
“idolatria”.
Lembre que idolatria
é algo que aponta para o mundo, ou seja, é essencialmente mundana, fazendo com
que as pessoas esqueçam a Deus, violando o primeiro mandamento, e se ocupem
exclusivamente com coisas do mundo, com divertimentos, distrações, passatempos,
passeios ociosos, prazeres, satisfação de deleites carnais, egocentrismo,
secreta preferência de si mesmo, trabalho excessivo e atentatório contra a
própria saúde, ganância (culto a Mamom, ou seja, ao dinheiro) e todas as formas
de vaidades[26].
Lembremos o conselho
de São João evangelista[27]:
“Não ameis o mundo
nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai. Porque tudo o que há no mundo – a
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba de vida – não
procede do Pai, mas do mundo. O mundo passa com
suas concupiscências, mas quem cumpre a vontade de Deus permanece eternamente.”
(grifos acrescidos)
Também ensinou São
Paulo:
“...5Portanto,
fazei morrer o que em vós pertence à terra:
imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a cobiça, que é idolatria. 6Tais coisas provocam a ira de Deus contra os que lhe resistem. 7Antigamente
vós estáveis enredados por estas coisas e vos deixastes dominar por elas. 8Agora,
porém, abandonai tudo isso: ira, irritação, maldade, blasfêmia, palavras
indecentes, que saem dos vossos lábios. 9Não mintais uns aos
outros. Já vos despojastes do homem velho e da sua maneira de agir 10e
vos revestistes do homem novo, que se renova segundo a imagem do seu Criador,
em ordem ao conhecimento. 11Aí não se faz distinção entre grego
e judeu, circunciso e incircunciso, inculto, selvagem, escravo e livre, mas
Cristo é tudo em todos....”[28]
Além disso, merece
especial destaque a mensagem recebida pela vidente Marija em Medjugorje[29],
datada de 25 de janeiro de 2018[30],
com o seguinte teor:
“...Filhinhos, procurem acima de tudo a Deus e as coisas de Deus
e deixem para a Terra aquilo que é da Terra porque satanás os
atrai para o pó e para o pecado. Vocês são convidados à
santidade e foram criados para o Céu.”[31]
As devoções e a
prática religiosa verdadeira, pelo contrário, abrem nossos olhos, livram-nos da
cegueira espiritual e nos mostram o caminho para o Céu, nos fazendo relativizar
tudo o que não contribui para a nossa salvação.
Não se deve esquecer
que:
“À luz material, cujo
benefício o olho concede ou recusa ao corpo, conforme esteja são ou doente,
compara-se a luz espiritual que irradia da alma: se ela mesma está obscurecida,
a cegueira será bem pior do que a que resulta da cegueira física.” (Nota
teológica da Bíblia de Jerusalém, em Mateus 6, 22, letra “a”, página 1714).
Entre as idolatrias
modernas, além do que mencionei até aqui, também temos o trabalho excessivo[32]
com o objetivo de ter tudo o que foi mencionado no parágrafo anterior, a
corrupção e todos os pecados referentes à obtenção ilícita de dinheiro, o apego
às vaidades, o culto do corpo e das aparências, as ilusões, o apego às próprias
convicções em detrimento da verdade, além do vaidoso egocentrismo.
Quantos que arruínam
a própria saúde e a própria vida motivados por ganância e vaidades!
Insisto, idolatria é
tudo que aponta para o mundo e que nós colocamos no lugar de Deus, muitas vezes
sufocando a verdade ou, como se diz popularmente, “tapando o sol com a
peneira”.
Ensinou-nos Santa
Faustina: “Oh! Como tudo atrai o homem
para a terra! Mas é a fé viva que mantém a alma em esferas mais elevadas, e
designa para o amor próprio o lugar que lhe convém, isto é, o último.”[33]
Uma pessoa que passa
duas horas na frente de um televisor assistindo um filme, novela ou jogo de
futebol e não tem tempo para rezar um terço ou para ir à Missa é um idólatra,
pois dedica seu tempo unicamente a coisas que não levam à salvação e não remetem
a Deus.
Com efeito, quem se
entrega às distrações do mundo desperdiça precioso tempo destinado à nossa
salvação e à obtenção de méritos para a eternidade.
E tempo perdido é
tempo perdido, não pode ser recuperado!
São Pio de
Pietrelcina assim nos advertiu: “Ah! Se
você chegasse a entender o valor do tempo!...” Ou, como diziam os sábios e
santos: Memento Creatoris tui, antequam tenebrescat sol
et lumen (Lembremos de Deus e
entremos em sua graça, antes que se nos apague a luz, conforme Eclesiástico 12,
1-2).
São Bernardo comovia-se, dizendo: Nihil pretiosius tempore, sed
nihil vilius aestimatur. Transeunt dies salutis (Passam os
dias oportunos para adquirir a salvação eterna e ninguém reflete que os dias
que passam lhe são descontados para nunca mais voltarem)[34].
E ainda:
“Desdenhado tempo! Tu serás o que os
mundanos desejarão mais na hora da morte. Desejarão então mais um ano, mais um mês, mais um
dia, mas não o terão, e ouvirão dizer: Tempus non erit amplius (1) – ‘Não
haverá mais tempo’.
Quanto não daria então cada um deles para ter mais uma semana, um dia, afim de
melhor ajustar as contas da consciência? Ainda que não fosse senão para obter
uma só hora, diz São Lourenço
Justiniano, ele daria todos os seus bens: Erogaret
opes, honores, delicias pro uma horula. Mas essa hora não lhe será dada.[35]
E Tomás de Kempis, na
obra Imitação de Cristo:
“Ainda que soubesses de cor toda a Bíblia e os ditos de todos os
filósofos, que te aproveitaria tudo isto sem o amor e a graça de Deus? Vaidade das Vaidades, tudo vaidade, exceto amar a
Deus e só a Ele servir. (Eclesiastes 1,2). A suma sabedoria é, pelo desprezo do mundo, caminhar
para o reino dos céus. 4.
É vaidade, pois, buscar riquezas perecedouras, e pôr nelas a esperança. Vaidade
é também desejar honras e desvanecer-se com elas. Vaidade é seguir os apetites
da carne e desejar aquilo por onde depois hás e ser gravemente castigado.
Vaidade é desejar vida longa, sem cuidar de que seja boa. Vaidade é também
olhar somente a esta presente vida e não prever o que virá depois. Vaidade é amar o que tão depressa passa e não buscar
com fervor a felicidade que sempre dura. 5 Lembra-te
amiúde daquele provérbio: ‘A vista não se farta de ver, o ouvido nunca se sacia
e ouvir’ (Ecl. 1,8). Procura, pois, desapegar teu coração das coisas visíveis e
afeiçoá-lo às invisíveis, porque os que seguem os atrativos dos sentidos
mancham as suas consciências e perdem a graça de Deus. [...] Muitas coisas há
cujo conhecimento pouco ou nada aproveita à alma, e muito insensato é quem se
aplica exageradamente às coisas que não conduzem à salvação. [...] O espírito puro, singelo e constante não se distrai,
ainda que se ocupe em muitas coisas; porque tudo faz para honra de Deus e em
nada procura o próprio interesse.”[36]
A título de
confirmação:
“...Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto,
onde Cristo está sentado à direita e Deus. Afeiçoai-vos
às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e a vossa vida
está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então
também vós aparecereis com ele na glória. Mortificai, pois, os vossos membros
no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a
cobiça, que é uma idolatria...”[37]
Quem trabalha demais
para ter um padrão de vida “invejável” e não tem tempo para Deus é um idólatra,
pois bem sabe que não levará nada de seus esforços após sua morte.
Tudo o que colocamos
no lugar de Deus ou que nos mantém distraídos durante o tempo que temos para
buscá-Lo é idolatria, com clara e evidente violação do primeiro mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas”.
Lógico que precisamos
trabalhar, descansar e ter momentos de lazer, mas isso não pode nos consumir a
ponto de não sobrar tempo algum para Deus, pois sempre temos ou achamos tempo para
aquilo que amamos.
É uma questão de
prioridades que exige uma ponderação equilibrada, até por que há formas de
estar unido a Deus mesmo em meio às ocupações habituais, o que significa dizer
que o trabalho produtivo não é empecilho à união com Deus, mas o trabalho feito
com excessos motivados pela ganância e pela ilusão incontida de ter sempre mais
e ostentar um padrão de vida opulento que configura idolatria, pois a pessoa se
distrai, perde o foco do Céu e desperdiça tempo precioso esquecendo-se de Deus.
Como todos sabemos,
as coisas do mundo ficam não mundo, ao passo que o que é Deus está em Deus.
Quem não ajunta bens espirituais em Cristo, ocupando-se unicamente em acumular
bens materiais, na verdade espalha e perde tais bens, ou, como bem adverte a Palavra:
“Não ajunteis para vós tesouros na
terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furam e roubam.
Ajuntai para vós tesouros no céu (...). Porque onde está o teu tesouro, lá
também está o teu coração” (Mateus 6, 19-20) e “Quem não está comigo está contra mim; e quem não ajunta comigo,
espalha” (Mateus 12, 30).
O equilíbrio na
administração dos bens vem com a consciência e a sobriedade, pois o Senhor bem
sabe que precisamos dos bens materiais, porém exige que priorizemos o Reino,
prometendo que “todas essas coisas vos
serão dadas em acréscimo” (Mateus 6, 33).
No mais, observo que
o diabo é um mestre em ludibriar e distrair! Um astuto estrategista do ócio e
das ocupações inúteis!
Em tempo, gostaria de
abrir um parênteses para citar mais um trecho da obra de Santa Faustina
Kowalska:
“1127. Em determinado momento, vi Satanás, que se apressava e
procurava alguém entre a irmãs, mas não encontrava. Senti na alma a inspiração
de lhe ordenar, em nome de Deus, que me confessasse o que estava procurando
entre as irmãs. E confessou, embora de má vontade: ‘Estou
procurando almas ociosas’. Então, novamente
ordenei, em nome de Deus, que me dissesse a que almas tem mais fácil acesso no
convento – e, outra vez confessou-me, de má vontade: ‘As almas preguiçosas e
ociosas.’ Notei então que, de fato, não há tal gênero de almas nesta casa. Alegrem-se as almas atarefadas e cansadas.”
Abro um parêntese
aqui para transcrever um dos tantos sonhos de Dom Bosco, cujo título é “A
Lanterna Mágica”:
“Sonhei e me parecia encontrar-me na Igreja. Estava a Igreja
cheia de jovens. Mas poucos se aproximavam para comungar. Havia junto do
comungatório um homem comprido comprido, negro negro, e aparecia dois chifres
pela cabeça. Levava na mão uma lanterna mágica [e] com ela ele fazia com que
cada jovem visse uma coisa.
A um lhe mostrava o pátio cheio de jogos e lhe interessava por
sua diversão favorita; a outro lhe apresentava os jogos passados, as partidas
perdidas e a esperança dos triunfos futuros; a este, seu povo natal com aquelas
excursões, aqueles campos, aquela casa; a esse mostrava com sua lanterna o
estudo, os livros, os trabalhos de prova; a aquele a fruta, os doces e o vinho
que guardava no baú; a outro, os presentes, os amigos ou algo pior, os pecados
e até o dinheiro não devolvido.
Assim que [eram] poucos se aproximavam da comunhão. Alguns viam
as excursões e as vocações e, deixando tudo de lado, se detinham a contemplar
os antigos companheiros de diversão.
Sabeis o que quer dizer este sonho?
Quer dizer que o demônio faz todo o possível
para distrair os jovens na Igreja e afastá-los dos Santos Sacramentos. E os
jovens são tão bobos que ficam olhando.
Amigos meus, tereis que romper com esta
janela do diabo. Sabeis como?
Dando uma olhada na Cruz e pensando que
deixar a Comunhão é o mesmo que colocar-se nos braços do demônio.”[38]
Retomando, observo
que o diabo é o “pai da mentira” e esmera-se e se esforça para fazer com que as
pessoas percam o foco no Céu e desperdicem seu precioso tempo na terra realizando
coisas que as absorvem por completo e que em nada contribuem para o
melhoramento da pessoa e sua salvação.
Cuidado, tempo perdido é tempo perdido! O passado já
passou e o futuro talvez não chegue, nosso é apenas o momento presente. É este
o momento favorável. É este o tempo da salvação. Nosso momento é agora!
Com efeito, as
distrações nos prendem ao mundo, nos fazem perder tempo precioso e nos fazem
esquecer o Céu, enfim, nos entorpecem e nos adormecem. A graça, no entanto, nos
sacode: “Desperta tu que dormes”
(Efésios 5, 15), “Agora é o tempo
favorável, agora é o dia da salvação” (2ª Coríntios 6, 2), acrescentando a
Palavra de Deus que: “no tempo da graça
eu te atenderei, no dia da salvação eu te socorrerei” (Isaías 49, 8),
recomendando-se, ainda: “Buscai ao
Senhor, já que ele se deixa encontrar; invocai-o, já que está perto”
(Isaías 55, 6).
Note-se que, não por
acaso, as pessoas que mais ganham dinheiro no mundo são justamente as pessoas
que “vendem” distrações, enfim, tudo o que nos faz perder tempo com coisas que
não levam à salvação e nos fazem esquecer a Deus, único, eterno e imutável bem.
Isso tudo que nos
ocupa e nos faz esquecer Deus é idolatria!
Tudo o que aponta
para baixo, para a terra, é idolatria!
A fé verdadeira e a
graça de Deus dispensada por Maria Santíssima, pelo contrário, aponta para o
Céu e nos faz trocar as coisas do mundo pelo Reino dos Céus, nos faz aproveitar
bem o tempo para cooperar com nossa salvação e obter méritos para a eternidade,
além de ajudar as outras pessoas a seguirem o mesmo caminho.
Assim exortou o
Apóstolo: “Vigiai, pois, com cuidado
sobre a vossa conduta: que ela não seja conduta de insensatos, mas de sábios
que aproveitam ciosamente o tempo, pois os dias são maus” (Efésios 5,
15-16). Assim já havia ensinado o Senhor: "Vigiai,
pois, porque não sabeis a hora em que virá o Senhor” (Mateus 24, 42).
As devoções
estimuladas pela Igreja têm justamente o objetivo de nos centrar na fé
verdadeira e nos direcionar para o Céu, nos encorajando a colocar em prática os
ensinamentos de Jesus e viver sempre na sua companhia, aproveitando o precioso
tempo que temos.
O calendário
litúrgico nos permite aproveitar bem o tempo durante o ano todo.
Feitas estas
observações, pergunto a você: A devoção à Santíssima Virgem Maria nos fixa no
mundo ou nos remete e nos faz lembrar o Céu?
Lembrem-se do que
falou Nossa Mãe Maria Santíssima nas Bodas de Caná, quando disse: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (João
2, 1-12).
É lógico que Maria
nos remete ao Céu! Maria nos encaminha para o Céu!
Maria nos desperta da
cegueira e nos mantém acordados durante nossa peregrinação na terra.
Maria, a Mãe da
Divina Misericórdia, é encarregada de obter a salvação dos pecadores mais
empedernidos, dos mais teimosos e das almas mais imersas e afundadas no lamaçal
do pecado.
Maria é última tábua
de salvação das almas em estado de pecado mortal ou grave, e a devoção à
Santíssima Senhora está representada na imagem de Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro, como a tira da sandalinha do Menino Jesus (vide imagem na capa do
livro), pois as almas em pecado mortal estão por um fio, somente a elas
restando, como último remédio, o apego à Santíssima Virgem.
Por isso é um erro
gravíssimo e trágico afastar as pessoas, principalmente os maiores e
incorrigíveis pecadores, da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, pois isso
equivale a roubar e a negar dos pecadores sua última esperança.
Importante, ainda,
observar que, mesmo quando nos socorre em relação a necessidades unicamente
temporais, como é o caso de desemprego, problemas de saúde ou outras situações
aflitivas, Maria sempre tem em vista o Céu e, além da graça que socorre a
situação momentânea, assinala seus filhos e os chama ao convívio de Jesus
Cristo, convívio do qual Maria desfruta desde sempre, juntamente com o
Patriarca São José. Lembre que uma mãe quando leva um filho à escola ou quanto
o repreende e castiga, faz isso para o bem do filho e para que a criança tenha
um bom futuro e uma boa formação, mas sempre a leva para casa depois das aulas,
sempre mantém o filho perto de si na segurança e no aconchego do ambiente
familiar.
Lembre que Maria é
fidelíssima esposa do Espírito Santo e, assim como as obras do Paráclito são
sempre completas, observamos que quando a Mãe do Senhor nos ajuda em questões
temporais, também nos encaminha nas questões espirituais de modo que, quando
ajuda uma pessoa a obter um bom emprego, Maria também deixa nesta mesma pessoa
marcas tão profundas que ela vai, por conta da graça de Deus dispensada por
Maria, se for fiel a esta mesma graça, acabar encontrando Jesus e sendo salva
por Ele.
Então:
A devoção à Santíssima Virgem não é idolatria!...
A devoção a São José não é idolatria!...
As devoções legitimamente autorizadas pela Igreja não
são idolatria!...
Mas, por outro lado,
observamos que a preocupação exagerada com a forma do corpo, com a ostentação
de uma vida rica, o apego exagerado às coisas, às pessoas, ao dinheiro, ao
futebol, aos prazeres, às vaidades etc. nos prendem ao mundo e nos fazem perder
tempo com coisas mundanas, sendo, justamente por isso, a verdadeira idolatria
dos tempos modernos, largamente praticado pelos “inimigos da cruz de Cristo”(Filipenses 3, 18).
Há também a idolatria
do “eu”, das personalidades, das doutrinas, das opiniões, da vontade própria,
do desejo de colocar-se no “centro” e de ser e saber mais que os outros.
Tudo o que tira o foco de Deus e nos prende ao mundo,
às pessoas ou a nós mesmos é idolatria!
Por fim, lembremos
que tudo o que fazemos em Maria e por Maria, fazemos em Cristo e por Cristo,
pois Maria, como demonstrado noutro momento, encaminha tudo para Cristo. Tudo o
que consagramos a Maria, Ela consagra a Cristo; tudo o que pedimos a Maria, Ela
pede por nós a Cristo; tudo em Maria remete a Cristo, sendo insensatez e
irresponsabilidade pensar o contrário.
[1]
Êxoto 12, 11.
[3]
A referência aos israelitas como “hebreus” tem a conotação de “refugiados”.
[4]
SERRANO, Jonathas.
Epítome de História Universal. Livraria Francisco Alves. 24ª edição. 1954.
Página 41.
[5] Aqui convém explicar que o nome originário da divindade
cultuada era “Rá”. Porém a dinâmica sincretista também apresenta as expressões
“Amon-Rá”, que significa “culto ao deus sol”, e “Atum-Rá”, que era o nome
recebido na cidade de Lunus, Norte do Egito, local chamado pelos gregos de Heliópolis
(cidade do sol).
[6] A título de confirmação sobre
o culto que os egípcios faziam dos astros (sol, lua, estrelas, etc), digno de
nota são os versículos 42 e 43 do Livro dos Atos dos Apóstolos, em que está
escrito: “Mas Deus afastou-se e os
abandonou ao culto dos astros do céu, como está escrito no livro dos
profetas: Porventura, casa de Israel, vós me oferecestes vítimas e sacrifícios
por quarenta anos no deserto? Aceitastes a tenda de Moloc e a estrela do
vosso deus Renfão, figuras que vós fizestes para adorá-las! Assim e vos
deportarei para além da Babilônia (Am 5,25).” (grifou-se)
[7]
“...11 1 Os apóstolos e
os irmãos da Judéia ouviram dizer que também os pagãos haviam recebido a
palavra de Deus. 2 E, quando Pedro subiu a Jerusalém, os fiéis que eram da
circuncisão repreenderam-no: 3 ‘Por que entraste em casa de incircuncisos e
comeste com eles?’ 4 Mas Pedro fez-lhes uma exposição de tudo o que acontecera,
dizendo: 5 ‘Eu estava orando na cidade de Jope e, arrebatado em espírito, tive
uma visão: uma coisa, à maneira duma grande toalha, presa pelas quatro pontas,
descia do céu até perto de mim. 6 Olhei-a atentamente e distingui claramente quadrúpedes terrestres [referência a
animais objeto de adoração, como é o caso do bezerro de ouro], feras [alguns
reinos eram comparados a feras ou bestas nas visões do Profeta Daniel], répteis
[crocodilo adorado pelos egípcios] e aves do céu [referência religiões
politeístas, seres antropozoomórficos cultuados pelos egípcios, e às legiões de
Roma]. 7 Ouvi também uma voz que me dizia: ‘Levanta-te, Pedro! Mata e
come’. 8 Eu, porém, disse: De nenhum modo, Senhor, pois nunca entrou em minha
boca coisa profana ou impura. 9 Outra vez falou a voz do céu: ‘O que Deus
purificou não chames tu de impuro’. 10 Isto aconteceu três vezes e tudo tornou
a ser levado ao céu.” Nota do autor: importante
observar que a visão representa os povos de todo o mundo, a humanidade toda,
libertada da escravidão das falsas religiões, das crendices, das superstições,
do domínio intelectual e toda forma de opressão religiosa pela PREGAÇÃO DO
SANTO EVANGELHO! O sopro da boca de Cristo, Palavra Viva, aniquila os
demônios das falsas religiões. Portanto, queres ser libertador do povo? Anuncie
o Evangelho! Anuncie Jesus Ressuscitado!
[8] Vide Salmo 73 (Heb 74), 13-15. “Vosso
poder abriu o mar, esmagastes nas águas as cabeças de dragões.
Quebrastes as cabeças do Leviatã, e a destes como pasto aos monstros do mar.”
[9]
“Eu vejo, mas não e
para agora, percebo-o, mas não de perto: um astro sai de Jacó, um cetro levanta-se
de Israel, que fratura a cabeça de Moab, o crânio dessa raça guerreira.”
(Números 24, 17).
[10]
Povo eleito é Israel. A
Igreja é o novo Israel, o povo na nova e eterna aliança.
[11] A título de confirmação,
lei-se: “São confundidos os que adoram
estátuas e se gloriam em seus ídolos; pois os deuses se prostram diante do
Senhor” (Salmo, 96 – Heb 97 -, 7; deve ser lido com Filipenses 2,10).
[12]
Versículos 4.
[13] Na Bíblia de Jerusalém a
palavra “nome” aparece no plural, conforme se lê adiante: "Sus ídolos
abundan, tras ellos van corriendo. Mas yo jamás derramaré sus libámenes de
sangre, jamás tomaré sus nombres en
mis labios."
[14] Vide Êxodo 12, 12: “Naquela
noite, passarei através do Egito, e ferirei os primogênitos no Egito, tanto os
dos homens como os dos animais, e exercerei
minha justiça contra todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor.” (grifo
acrescido)
[15]
Vide Zacarias 13,2
[16]
O sol que nasce do alto
nos visitará, para dirigir nossos passos no caminho da paz (Lc 1,78.79).
[17]
Salmo 35 (36), 10. “O sol que nasce do alto nos visitará, para
dirigir nossos passos no caminho da paz (Lc 1,78.79).” (Liturgia das Horas)
[18] “Naqueles
dias, 4 a palavra do Senhor foi dirigida a Natã nestes
termos: 5 “Vai dizer ao meu servo Davi: ‘Assim fala o
Senhor: Porventura és tu que me construirás uma casa para eu habitar? 6 Pois
eu nunca morei numa casa, desde que tirei do Egito os filhos de Israel até o
dia de hoje, mas tenho vagueado em tendas e abrigos. 7 Por
todos os lugares onde andei com os filhos de Israel, disse, porventura, a algum
dos chefes de Israel, que encarreguei de apascentar o meu povo: Por que não me
edificastes uma casa de cedro?’ 8 Dirás, pois, agora ao
meu servo Davi: ‘Assim fala o Senhor todo-poderoso: Fui eu que te tirei do
pastoreio, do meio das ovelhas, para que fosses o chefe do meu povo,
Israel. 9 Estive contigo em toda parte por onde andaste e
exterminei diante de ti todos os teus inimigos, fazendo o teu nome tão célebre
como o dos homens mais famosos da terra. 10 Vou preparar
um lugar para o meu povo, Israel: eu o implantarei, de modo que possa morar lá
sem jamais ser inquietado. Os homens violentos não tornarão a oprimi-lo como
outrora, 11 no tempo em que eu estabelecia juízes sobre o
meu povo, Israel. Concedo-te uma vida tranquila, livrando-te de todos os teus
inimigos. E o Senhor te anuncia que te fará uma casa. 12 Quando
chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então suscitarei, depois
de ti, um filho teu e confirmarei a sua realeza. 13 Será
ele que construirá uma casa para o meu nome, e eu firmarei para sempre o seu
trono real. 14 Eu serei para ele um pai, e ele será para
mim um filho. Se ele proceder mal, eu o castigarei com vara de homens e com
golpes dos filhos dos homens. 15 Mas não retirarei dele a
minha graça, como a retirei de Saul, a quem expulsei da minha presença. 16 Tua
casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será
firme para sempre’”. 17 Natã comunicou a Davi todas essas
palavras e toda essa revelação. – Palavra do Senhor.”
[19]
O Papa São
Gregório Magno(† 604), doutor da Igreja, escreveu a Sereno, bispo de Marselha,
que ordenou quebrar as imagens: “Tu não
devias quebrar o que foi colocado nas Igrejas não para ser adorado, mas
simplesmente para ser venerado. Uma coisa é adorar uma imagem, outra coisa é
aprender, mediante essa imagem, a quem se dirigem as tuas preces. O que a
Escritura é para aqueles que sabem ler, a imagem o é para os ignorantes;
mediante essas imagens aprendem o caminho a seguir. A imagem é o livro daqueles
que não sabem ler” (epist. XI 13 PL 77, 1128c).
O Concílio de Nicéia II (787), com base nos sólidos
argumentos de grandes teólogos como São João Damasceno, doutor da Igreja,
reafirmou a validade do culto de veneração (não adoração) das imagens. O
Concílio distinguiu entre Iatréia (em grego adoração), devida somente a Deus, e
proskynesis (veneração), tributável aos santos e também às imagens sagradas na
medida em que estas representam os santos ou o próprio Senhor; o culto às
imagens é, portanto, relativo, só se explica na medida em que é tributado
indiretamente àqueles que as imagens representam. Assim se pronunciaram os
padres conciliares: “Definimos… que,
como as representações da Cruz…, assim também as veneráveis e santas imagens,
em pintura, em mosaico ou de qualquer outra matéria adequada, devem ser
expostas nas santas igrejas de Deus (sobre os santos utensílios e os
paramentos, sobre as paredes e de quadros), nas casas e nas entradas. O mesmo
se faça com a imagem de Deus Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, com as da…
santa Mãe de Deus, com as dos santos Anjos e as de todos os santos e justos.
Quanto mais os fiéis contemplarem essas representações, mais serão levados a
recordar-se dos modelos originais, a se voltar para eles, e lhes testemunhar…
uma veneração respeitosa, sem que isto seja adoração, pois esta só convém,
segundo a nossa fé, a Deus” (sessão 7, 13 de outubro de 787;
Denzinger-Schönmetzer, Enchridion Symbolorum nº 600s). In https://cleofas.com.br/as-imagens-na-tradicao-da-igreja-2/
[20]
TROCHU, Francis. O
Santo Cura D’Ars. Editora Biblioteca Católica. 2018. Página 156.
[21]
Sentido de devasso,
cínico e corrupto.
[22]
Que se deixou
corromper.
[23]
Obcecado por dinheiro.
[24]
Efésios 5, 5.
[25]
A etimologia é a
ciência que estuda a origem das palavras.
[26] Os “fabricantes de ídolos”
(Isaías 45, 15-25) são os que vendem distrações às pessoas, desviando-as do
caminho da verdade e cegando-as durante o tempo que deveriam buscar a salvação.
[27]
1ª Epístola de São João
2, 15.
[28]
Colossenes 3, 5
[29] Obviamente que o autor não
desconhece que a Igreja ainda não aprovou Medjugorje (ou que há muitos
questionamentos nesse aspecto), bem como não ignora a existência de opiniões
desfavoráveis. Entretanto, lembrando o Apóstolo dos Gentios, peço, guardai o
que é bom, observando que o saudoso Padre Gabriele Amorth, durante muito tempo
exorcista de Roma, acreditava nos videntes dizendo: “e como são verdadeiros.”
[30]
http://www.medjugorje.com.br/vidente-marija-nossa-senhora-nao-se-cansa-de-nos-chamar-santidade/
[31] Logicamente que sabemos que a
Igreja não aprovou ainda as chamadas aparições de Medjgorje. Por esta razão,
procede-se com cautela e se recomenda cautela, aconselhando-se, conforme o
apóstolo, “guardai o que é bom”.
[32]
“Workaholic. Que ou
quem é viciado em trabalho; trabalhador compulsivo.
[33]
Diário de Santa
Faustina. A Misericórdia Divina em Minha Alma. Parágrafo 210.
[34] Tradução literal: “Nada é
mais precioso que o tempo. Nada é tão desprezado [como o tempo]. Com o tempo
passa a saúde.”
[35]
https://rumoasantidade.com.br/espiritualidade/desprezo-tempo-hora-morte/?fbclid=IwAR3lFt5GdfeV6yYDKi54C_p4VIEW7FQ9a6uhZZVNxasi4a9Uo70ZUuQsKfk
[36]
Imitação de Cristo, Livro I, capítulo I, itens 3,
4 e 5.
[37]
Colossenses 3, 1-5.
[38]
N. 38 (MB 8,115-116 = MBe 8, 110)
Diácono Permanente Marcos Suzin - Diocese de Vacaria-RS.
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