O Sentimento e o
Consentimento
"O sentimento não é reprovável. O consentimento sim." (Santo Padre Pio de Pietrelcina)
"O sentimento não é reprovável. O consentimento sim." (Santo Padre Pio de Pietrelcina)
Escrevo agora de modo especial àqueles que se dedicam a evangelizar e empreendem esforços para levar o nome de Cristo Jesus e seu Evangelho a toda criatura. Escrevo, pois sinto no coração que todos nós precisamos compreender melhor as dificuldades pelas quais passamos e as provas cada vez mais intensas e frequentes a que nossa fé é exposta.
Inicialmente,
gostaria de esclarecer, como bem o fazem os grandes confessores, que há uma
diferença muito grande – eu diria imensa – entre o sentimento e o consentimento.
E é justamente nisso que consiste o propósito deste texto, que é estabelecer alguns
parâmetros que sirvam de auxílio, consolo e ânimo a todos os que enfrentam
grandes contradições em relação aos esforços que empreenderam no trabalho
realizando na Vinha do Senhor (trabalhos na Igreja e na Evangelização,
especialmente dos jovens).
O Livro do
Eclesiástico, em seu capítulo 2, traz uma passagem interessantíssima, que eu
transcrevo abaixo:
“...Meu filho, se você se apresenta para
servir ao Senhor, prepare-se para a provação. Tenha coração reto, seja
constante e não se desvie no tempo da adversidade. Una-se ao Senhor e não se
separe, para que no último dia você seja exaltado. Aceite tudo o que lhe
acontecer, e seja paciente nas situações dolorosas, porque o ouro é
provado no fogo e as pessoas escolhidas, no forno da humilhação. Confie no
Senhor, e Ele o ajudará; seja reto o seu caminho e espere no Senhor.
Vocês
que temem ao Senhor, confiem na misericórdia dele, e não se desviem, para não
caírem. Vocês que temem ao Senhor, confiem nele, que não lhes negará a
recompensa de vocês. (...) Porque o Senhor é compassivo e misericordioso,
perdoa os pecados e salva no tempo do perigo. (...) Os que temem ao Senhor
procuram agradar-lhe, e aqueles que o amam cumprem a Lei. Os que temem ao
Senhor preparam seus corações, e diante dele se humilham. Cada um de nós se coloque nas mãos do Senhor, e não
nas mãos dos homens, pois a misericórdia dele é como sua grandeza.”
Você percebeu bem? Então precisamos ter em
mente que, a partir do momento em que estamos a serviço do Senhor, vamos sofrer
com tentações e tribulações, observando-se que a Palavra fala, inclusive, em
humilhações. Mas nenhum desses sofrimentos têm comparação com a graça e a glória que é servir a Deus.
Portanto, se
você exerce algum trabalho pastoral (catequista, coordenador de movimento,
participante ou presta algum tipo de auxílio na Igreja) saiba que você vai ser
provado, ou seja, submetido a contradições, situações difíceis, além de muitas incompreensões, ingratidão e falta de reconhecimento. Mas você não
deve ter medo, isso é apenas para afastar aqueles que estão ali apenas para “aparecer”
e para que Deus possa valorizar os seus esforços e conceder-lhe cada vez mais e
mais méritos. Dessa forma, quanto mais você se incomodar ou sofrer por causa de
Jesus e do trabalho na Igreja, melhor para você. Deus permite isso, mas é para
o seu bem, porque achou você merecedor (a) de padecer algum sofrimento por amor
do santo nome de Jesus.
Os sofrimentos, incômodos, incompreensões, perseguições, calúnias, difamação, etc. são uma comprovação de que Jesus está com você. Isso tanto é verdade que o próprio Jesus também passou por isso.
Voltando ao
tema central, observo que todos os servos, especialmente os mais dedicados e
zelosos, estão sendo e serão tentados (as). Disso ninguém escapa, nem os servos menores e nem os mais eloquentes.
O objetivo
dessas tentações – que não provêm de Deus, muito embora Ele as permita – é fazer
com que o servo desanime e desista, deixando a obra por fazer, incompleta, com
prejuízos evidentes a todos os que seriam beneficiados. Também se percebe que o
objetivo do tentador é levar o servo (seja leigo, seja religioso, religiosa,
ordenado..) à ruína, com o envolvimento em fatos escandalosos.
O desânimo é a
pior de todas as tentações, pois ele escancara a alma a diversos outros
sentimentos nocivos e prejudiciais. Quando um servo de Deus desanima, ele deixa de
realizar adequadamente o seu trabalho e logo começa a sentir involuntariamente
inveja e rejeição por aqueles que o substituíram ou o criticaram. Logo outros
sentimentos de rancor e ódio começam a tomar conta, a ponto de o fiel tornar-se
exatamente o oposto de tudo o que ele pretendia ser quando iniciou seu trabalho
na Igreja.
O inimigo só precisa de uma brecha para nos sugerir suas maldades. O desânimo faz um rombo, e isso é muito mais do que uma brecha.
Portanto, é
preciso saber lidar com as tentações, porque “aos provados na tentação é
prometida a consolação celestial. ‘Ao que vencer, diz o Senhor, darei a comer o
fruto da árvore da vida.’ (Apocalipse, 2,7)” (Livro Imitação de Cristo, Livro
II, parágrafo 7).
O Padre
Caetano Caon, com atuação nas Dioceses de Vacaria/RS e Manaus/AM, durante
muitos anos ensinou que: “Não é pecado o SENTIR, mas o CONSENTIR”. Isso significa dizer que há uma diferença
muito grande a respeito dessas duas situações.
Ainda sobre o
ensinamento do notável sacerdote, observo que não temos controle nem domínio
sobre o nosso sentimento. Não escolhemos de quem gostamos ou o que queremos ou o que nos atrai,
isso está fora do nosso controle. Em outras palavras, isso quer dizer que o SENTIR
não está no nosso controle, mas o CONSENTIR está sob a regência de nossa
vontade e se chegarmos a esse ponto, ou seja, se diante do sentimento nós temos o
consentimento, aí sim, estamos violando os mandamentos.
Muito
importante é o magistério do Frei Elias Vella:
“...O diabo
consegue reconhecer os nossos pensamentos mais íntimos, diz São Tomás. (...)
Pode também influenciar nossos cérebros, perturbar as ideias, distorcer a
verdade e obscurecer a inteligência. Ele pode também nos induzir ao mal,
mexendo com nossas emoções (...). Ele pode também caçoar de nós, trazer à nossa
mente fantasias sexuais e às vezes até aparências de natureza sexual.
Certamente, não estou aqui dizendo que tudo de estranho que acontece conosco,
venha do diabo. Estou aqui, somente afirmando quais os poderes que o diabo de
fato tem.” (do livro O AntiCristo. Quem é e como age”, Frei Elias Vella,
Editora Palavra e Prece, páginas 124-5).
Frei Elias Vella
Portanto, no
SENTIR não há pecado, ainda que sejamos perturbados por muitos pensamentos impuros. Com
efeito, enquanto resistimos a esses pensamentos e não consentimos com as
ofertas de pecado que recebemos, nós não só não pecamos como estamos angariando méritos para a
eternidade. Em outras palavras, quanto mais resistimos à tentação, maiores
serão os nossos méritos, desde que, obviamente, não viemos a CONSENTIR no mal
que nos é oferecido.
Mas é preciso
também dizer que não podemos brigar com esses pensamentos inoportunos. Nós
temos de resistir, não brigar com eles. Se a nossa mente é invadida por um
pensamentos de pecado, como o desejo de envolver-se em situações de adultério ou pecado contra
a castidade, precisamos resistir e desprezar conscientemente a “proposta” do
tentador.
Vamos
imaginar o seguinte. Você entra em camelódromo imenso numa cidade grande. Ali
estão sendo oferecidos muitos produtos. Você percorre toda a extensão do
camelódromo e visualiza muitos e variados produtos, desde eletrônicos até
artesanato. Pode ser até que você se sinta atraído (a) a adquirir um ou outro
produto, mas você não o fará, especialmente se o produto for daqueles que se
estragam com facilidade. Você sabe que é “jogar dinheiro fora” comprar certas
coisas e, apesar da vontade de comprar, não compra. Deu vontade, mas você
disse: “Não vou jogar dinheiro fora num radinho que vai durar uma semana ou
menos até”. E você acaba saindo do camelódromo sem comprar nada, pois sabe que
é só uma ilusão de momento.
Em relação às
tentações é a mesma coisa, guardadas as devidas proporções, evidentemente.
Diariamente
somos bombardeados por ofertas de pecado, especialmente no tocante à castidade
e a fidelidade matrimonial. Basta ligar a TV ou acessar a Internet, as imagens
apelativas estão por toda parte. Mas aí eu me lembro do camelódromo, de que
tantas coisas são oferecidas, mas algumas simplesmente não me convêm e me colocariam em pecado grave ou mortal. Você, diante dessa situação, resiste e
pensa consigo mesmo: “Não vou jogar minha eternidade, paz, convívio com Deus, felicidade, na
lata do lixo por um momento que vai durar só uns minutos, mas com consequências
graves e talvez irremediáveis.”
Você
entendeu? As propostas de pecado são só uma ilusão de momento. Você precisar RESISTIR,
desprezando-as, e REAGIR, repudiando-as e saindo da ocasião que o (a) deixa
vulnerável.
Diante da
tentação, a melhor postura é RESISTIR e, depois, REAGIR. É desprezar a proposta
inicial do inimigo e colocar-se distante da ocasião de pecado.
.
Mas e se a tentação fica tão forte a ponto de me arrastar, o que fazer?
A devoção e adoração eucarística têm um efeito simplesmente maravilhoso. É impressionante como a tentação perde a força quando estamos diante do Santíssimo Sacramento, adorando a presença real e concreta de Jesus.
A recitação do Santo Rosário também tem um efeito devastador contra as tentações. É impressionante como o demônio se perturba pelo simples ressoar da Ave-Maria.... Não é por outro motivo que os réprobos e hereges se levantam com tanta violência contra a devoção à Virgem Maria e ao reconhecimento à presença real e concreta de Jesus na Eucaristia.
Ainda sobre a devoção à Virgem Maria,
transcrevo mais alguns trechos da obra do Frei Elias Vella:
"Certa
vez um exorcista famoso me disse que o diabo fica mais incomodado e se enche de
raiva quando alguém fala o nome de Maria, do que quando fala o Nome do próprio
Jesus. (...) Maria o tira do sério! O
nome dela faz com que ele sinta raiva, fique nervoso! Ele não a suporta. (...)
A humildade dela o perturba. Ela o incomoda e o expõe ao ridículo. (...) Ninguém melhor do que Maria para combatê-lo.
(...) Maria unida a Jesus esmaga a
cabeça da serpente. (...) Maria é a inimiga mais poderosa de quem o diabo tem
medo. Ele tem medo de Maria (...). Sua arrogância e seu orgulho o fazem sofrer
tremendamente, especialmente diante da humildade dela. (...) Portanto, podemos compreender facilmente
por que o diabo faz de tudo para interferir de todas as maneiras, colocando
obstáculos contra qualquer devoção com relação à Virgem Maria. De Fato, -
comenta São Maximiliano Kolbe – ‘o diabo faz de tudo para manter a alma
distante da intimidade com a Virgem Maria.' (...) A devoção que o diabo menos
suporta é a do Rosário. (...) As contas do Rosário o assustam tanto que, em
seus ataques, com frequência ele o destrói, deixando-o em pedaços.” (Do livro O
AntiCristo, quem é e como age. Editora Palavra & Prece. Páginas 183-85.)
Além disso, é fundamental a assiduidade à Santa Missa. Aliás, não há nada no mundo mais importante do que a Missa, pois na Missa há um calvário renovado, com a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. A missa tem tudo, tem Jesus, tem Maria, tem os anjos, tem oração, perdão dos pecados, louvor, ofertório, comunhão, bênção, cura, milagre e restauração.
Espero ter ajudado você. Deus abençoe sempre.