A beleza e a cor das imagens estimula minha oração, disse São João Damasceno
Pietá de Michelangelo
Na Encarnação do Verbo, Deus
mostrou aos homens uma face visível de Deus. Os cristãos foram, então,
compreendendo que segundo a pedagogia divina, deveriam passar da contemplação
do visível ao invisível. As imagens, principalmente os que reproduziam
personagens e cenas da história sagrada, tornaram-se “a Bíblia dos iletrados”
ou analfabetos.
Os Reformadores protestantes rejeitaram
as imagens por causa dos abusos do fim da Idade Média; Lutero, porém, se
mostrou bastante liberal com as imagens; não as proibia.
Ultimamente entre os luteranos a
atitude inococlasta (heresia que rejeitava as imagens) tem sido submetida a
revisão. Lutero rejeitou os iconoclastas (quebradores de imagens) escreveu
essas palavras em 1528: “Tenho como algo deixado à livre escolha as imagens, os
sinos, as vestes litúrgicas e coisas semelhantes. Quem não os quer, deixe-os de
lado, embora as imagens inspiradas pela Escritura e por histórias edificantes
me pareçam muito úteis… Nada tenho em comum com os Iconoclastas” (Da Ceia de
Cristo).
Nos primeiros séculos do
Cristianismo, ainda encontramos alguns escritores cristãos que mostram
mal-entendidos ou abusos por parte dos fiéis no uso das imagens. Mas os
cristãos foram percebendo que a proibição de fazer imagens no Antigo Testamento
era apenas uma questão pedagógica de Deus com o povo de Israel, para que esse
não se voltasse para os ídolos. Deus proibia fazer imagens de ídolos e não de
outros seres. As gerações cristãs começaram a representar e meditar as fases da
vida de Jesus e a representação artística das mesmas começaram a surgir como um
meio valioso para que o povo fiel se aproximasse do Filho de Deus.
Já nas antigas catacumbas de Roma
(S. Calisto, Priscila, etc.), os antigos cemitérios cristãos, encontram-se
diversos afrescos geralmente inspirados pelo texto bíblico: Noé salvo das águas
do dilúvio, os três jovens cantando na fornalha, Daniel na cova dos leões, os
pães e os peixes restantes da multiplicação efetuada por Jesus, o Peixe
(Ichthys), que simbolizava o Cristo.
Note que esses cristãos dos
primeiros séculos estão debaixo da perseguição dos romanos. E eles faziam
imagens e pintavam figuras. Será que eram idólatras por isso? É lógico que não,
eles morriam às vezes mártires exatamente para não praticarem a idolatria,
reconhecendo César como Deus e lhe queimando incenso. Ora, se os nossos
mártires usavam figuras pintadas, é claro que elas são legítimas.
Nas Igrejas as imagens
tornaram-se a “Bíblia dos iletrados”, dos simples e das crianças, exercendo
grande função catequética. Alguns escritores cristãos nos contam isso. São
Gregório de Nissa (†394) escreveu: “O desenho mudo sabe falar sobre as paredes
das igrejas e ajuda grandemente” (Panegírico de S. Teodoro, PG 94, 1248c).
São Gregório de Nissa.
São João Damasceno, doutor da
Igreja, grande defensor das imagens no Concilio de Nicéia II, disse:
“O que a
Bíblia é para os que sabem ler, a imagem o é para os iletrados” (De imaginibus
I 17 PG, 1248c). “Antigamente Deus, que não tem corpo nem face, não poderia ser
absolutamente representado através duma imagem. Mas agora que Ele se fez ver na
carne e que Ele viveu com os homens, eu posso fazer uma imagem do que vi de
Deus.” “A beleza e a cor das imagens estimula minha oração. É uma festa para os
meus olhos, tanto quanto o espetáculo dos campos estimula o meu coração para
dar glória a Deus” (CIC, 1162). “Como fazer a imagem do invisível? Na medida em
que Deus é invisível, não o represento por imagens; mas, desde que viste o
incorpóreo feito homem, fazes a imagem da forma humana: já que o inviável se
tornou visível na carne, pinta a semelhança do invisível” (I 8 PG 94,
1237-1240). “Outrora Deus, o Incorpóreo e invisível, nunca era representado.
Mas agora que Deus se manifestou na carne e habitou entre os homens, eu
represento o “visível” de Deus. Não adoro a matéria, mas o Criador da matéria”
(Ibid. I 16 PG 94, 1245s).
O Papa São Gregório Magno (†
604), doutor da Igreja, escreveu a Sereno, bispo de Marselha, que ordenou
quebrar as imagens:
“Tu não devias quebrar o que foi colocado nas Igrejas não
para ser adorado, mas simplesmente para ser venerado. Uma coisa é adorar uma
imagem, outra coisa é aprender, mediante essa imagem, a quem se dirigem as tuas
preces. O que a Escritura é para aqueles que sabem ler, a imagem o é para os
ignorantes; mediante essas imagens aprendem o caminho a seguir. A imagem é o
livro daqueles que não sabem ler” (epist. XI 13 PL 77, 1128c).
São Gregório Magno
Nos séculos VIII e IX surgiu na
Igreja a disputa em torno do uso das imagens, a questão iconoclasta. Por
influência do judaísmo, do islamismo, de seitas e de antigas heresias
cristológicas, muitos cristãos do Oriente começaram a negar a legitimidade do
culto das imagens. Os imperadores bizantinos, de Constantinopla, tomaram parte
na disputa, por motivos políticos mais do que por razões religiosas.
Desencadeada sob o Imperador bizantino Leão Isáurico (717-741), a controvérsia
das imagens foi levada ao Concílio de Nicéia II (787).
Com base nos sólidos argumentos
de grandes teólogos como São João Damasceno, doutor da Igreja, este Concilio
reafirmou a validade do culto de veneração (não adoração) das imagens. O
Concílio distinguiu entre Iatréia (em grego adoração), devida somente a Deus, e
proskynesis (veneração), tributável aos santos e também às imagens sagradas na
medida em que estas representam os santos ou o próprio Senhor; o culto às
imagens é, portanto, relativo, só se explica na medida em que é tributado
indiretamente àqueles que as imagens representam.
Assim se pronunciaram os padres
conciliares:
“Definimos que, como as representações da Cruz, assim também as
veneráveis e santas imagens, em pintura, em mosaico ou de qualquer outra
matéria adequada, devem ser expostas nas santas igrejas de Deus (sobre os
santos utensílios e os paramentos, sobre as paredes e de quadros), nas casas e
nas entradas. O mesmo se faça com a imagem de Deus Nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo, com as da santa Mãe de Deus, com as dos santos Anjos e as de
todos os santos e justos. Quanto mais os fiéis contemplarem essas
representações, mais serão levados a recordar-se dos modelos originais, a se
voltar para eles, e lhes testemunhar … uma veneração respeitosa, sem que isto
seja adoração, pois esta só convém, segundo a nossa fé, a Deus” (sessão 7, 13
de outubro de 787; Denzinger-Schönmetzer, Enchridion Symbolorum nº 600s).
Note, então, que muito antes da
Reforma Protestante, a Igreja já tinha estudado o uso das imagens; isto foi
cerca de 750 anos antes da Reforma. A sagrada Tradição da Igreja, sempre
assistida pelo Espírito Santo (cf. Jo14,15.25; 16,12-13), sempre reconheceu o
valor pedagógico e psicológico das imagens como um auxílio para a vida de
oração. Todos os santos da Igreja, em todas as épocas, valorizaram as imagens.
Santa Teresa de Ávila († 1582), ao ensinar as vias da oração às suas
Religiosas, dizia:
“Eis um meio que vos poderá ajudar… Cuidai de ter uma imagem
ou uma pintura de Nosso Senhor que esteja de acordo com o vosso gosto. Não vos
contenteis com trazê-las sobre o vosso coração sem jamais a olhar, mas
servi-vos da mesma para vos entreterdes muitas vezes com Ele” (Caminho de
Perfeição, cap. 43,1).
Prof. Felipe Aquino
Fonte: www.cancaonova.com.br
Fonte: www.cancaonova.com.br
Muitas pessoas entram e saem de nossa vida! Mesmo as que não conhecemos. Contudo, só as que trazem dentro de si a beleza da vida, a força do amor é que deixam em nós rastros de céu! Não são palavras, discursos, belezas humanas que marcam nossa vida, mas sim a força do Amor de Deus manifestado nos seres humanos!Obrigada por me considerar amiga.
ResponderExcluirAs pessoas unidas pela fé sempre estão em sintonia.