“Mulher, eis aí o teu
filho; (...) “Eis aí tua mãe” (Jo 19, 25-27)
Certa vez os fariseus e saduceus
foram até João, o Batista. Cheio do Espírito Santo desde o ventre materno, João
os reconheceu rapidamente, e percebeu que eles não tinham contrição alguma, que
não queriam arrepender-se de seus pecados e tampouco converter-se da vida
injusta que levavam.
Ao desmascará-los, João falou em
alta voz:
“Raça
de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera vindoura? Dai, pois, frutos de
verdadeira penitência. Não digais dentro de vós: Nós temos a Abraão por pai!
Pois eu vos digo: Deus é poderoso
para suscitar dessas pedras filhos de Abraão.” (Mateus 3, 7-9)
Você observou bem a parte que eu
grifei acima? Que Deus tem poder para fazer nascer das pedras filhos de Abraão.
A repreensão era em virtude que os fariseus e saduceus achavam que, por terem a
descendência de Abraão, não precisariam conversão e que eram completamente
justos, vivendo, no entanto, uma vida pecaminosa e cheia de maldades.
Com efeito, não basta ser filho
de Abraão, é preciso viver uma vida agradável e obediente a Deus.
Mas o que eu quero falar é sobre
a parte que eu grifei, de que Deus pode fazer surgir das pedras filhos de
Abraão, pois a Deus coisa alguma é impossível. O mesmo Deus que pode fazer nascer das pedras filhos de Abraão também pode fazer com que as pedras falem quando os profetas se calam ou são calados.
Agora convido você a meditar a
dolorosíssima crucificação de Jesus, no exato momento em que Jesus, em ato de
última vontade, confiou Maria como Mãe a João e confiou João como filho de
Maria, ao que João levou a Santíssima Mãe do Senhor para sua casa, lembrando
que a casa do apóstolo é a Igreja.
Mas lembre, as palavras muitas
vezes são insuficientes para retratar um momento, especialmente os sentimentos
e as dores do coração. É lógico que Jesus deu Maria por Mãe de João Evangelista e que João
naquele momento representava todos os cristãos - os nascidos e os que ainda iriam nascer -, o que significa dizer que em
João Evangelista, por obra, graça, milagre e amor extremo de Jesus Cristo,
todos nos tornamos filhos de Maria Santíssima.
A Beata Anna Catharina Emmerich,
ao testemunhar esse acontecimento em suas maravilhosas visões e revelações
particulares, acrescentou o que Jesus sentiu em seu Sacratíssimo Coração quando
deu Maria por Mãe de João e de todos nós.
Vejamos um trecho do livro Vida,
Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus, ocasião em que a Beata Anna
Catharina narrou detalhadamente esse momento:
“A Mãe de Jesus, Madalena, Maria de Cléofas,
Maria Helí e João estavam entre as cruzes dos ladrões, em redor da cruz de
Jesus, olhando para Nosso Senhor. A Santíssima Virgem, em seu amor de mãe,
suplicava interiormente a Jesus que a deixasse morrer com Ele. Então olhou o Senhor com inefável
ternura para a Mãe querida e, volvendo os olhos para João, disse a Maria: ‘Mulher,
eis aí o teu filho: será mais teu filho do que se tivesse nascido de ti.’ (...)
Não sei se Jesus pronunciou alto todas essas palavras; percebi-as
interiormente, quando, antes de morrer, entregou Maria Santíssima, como Mãe, ao
Apóstolo querido e este, como filho, a sua Mãe. Em tais contemplações se
percebem muitas coisas, que não foram escritas; é pouco apenas o que pode
exprimir a língua humana.” (páginas 308-9)
Você percebeu bem? Se Deus pode
fazer nascer das pedras filhos de Abraão, muito mais poderá fazer de nós filhos
de Maria Santíssima, mais do que se tivéssemos, fisicamente, saído e nascido
dela. Isso quer dizer que, por obra, milagre e graça de Jesus Cristo, Nosso
Senhor, em ato extremo de amor e última vontade, nós fomos constituídos filhos
da Santíssima Virgem Maria, mais do que se tivéssemos a sua carne e o seu
sangue.
Veja bem, querido (a) leitor (a),
que uma pessoa descende de outra segunda a carne e a natureza. Isso quer dizer
que o nascimento decorre unicamente de uma consequência natural, muitas vezes
sequer desejada pelos pais. Todavia, o nosso nascimento e nossa filiação em
Maria Santíssima não decorre de uma consequência da natureza ou da vontade do
homem, mas de milagre extraordinário, da vontade e da insondável misericórdia de
Jesus Cristo, o nosso Senhor e nosso Deus.
Portanto, se somos filhos de
Maria, e isso é uma verdade cuja afirmação é cada vez mais necessária, nós o
somos não simbolicamente, mas, por graça de Deus, mais do que se naturalmente
tivéssemos nascido de Maria.
Por isso, saiba! Maria é nossa
Mãe, mais do que se tivéssemos saído dela.